sábado, 10 de outubro de 2009

Laços e lenços.

Laços e lenços.

Arrumados em uma velha caixa de lenços” Paramounte”, você deixou para mim uma flor seca e um monte de lápis-de-cor da sua infância. Alguns muito gastos, toquinhos pequenos, outros quase inteiros, cores que não deviam lhe agradar, vermelho sangue, por exemplo, você nem usou.
Amarelo e azul celeste, você quase acabou com eles. Parece até que só guardou os caquinhos para que me servissem de guia na viagem para trás em busca de sua infância da qual, sem que soubéssemos, eu já fazia parte.
Alguns lápis têm na parte superior um chanfro vigoroso, feito à faca de cozinha, onde sua mãe escreveu “Ricardo”.
Guardiã dessa estória triste , cheia de afetos e cuidados, contida na antiga caixa de lenços, eu me pergunto o que houve com Ricardo Menino que gostava tanto de azul e amarelo , nunca vermelho sangue? Oque houve com Ricardo Menino que deixou para mim todos os lápis-de-cor que o menino Ricardo não acabou de usar?
Cadê o menino, cadê a menina? Ela vai enxugar lágrimas com lenços que não são mais de pano, lágrimas e lenços descartáveis? Ou , com muito cuidado para não quebrar as pontas, em registros coloridos, ela tenta redesenhar a vida e viajar pra frente?

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