sábado, 20 de fevereiro de 2010

Amabilidades.

Amabilidades.
Abrir as cortinas de manhã e ensolarar o quarto, espanar pesadelos e miasmas.
Andar pelo bairro e descobrir que ainda existem velhos apartamentos em cima do açougue. Quem mora lá? A costureira loura e baixinha que já era velha quando fez meu vestido de casar?
Lembrar sem rancor do vestido, do noivo, da viagem de avião. Recordar de leve, com certo carinho.
Alimentar a cadela prenha e falar com ela de mãe pra mãe.
Sem angústia, visualizar as figuras dos mortos queridos e sorrir de suas excentricidades. Guardá-las bem suavemente em algum cantinho para que não se desvaneçam como asas de borboletas.
Recomendar ao filho distante um remédio para gripe.
Ouvir a voz da filha conversando ao telefone enquanto à sombra, no desnível do telhado, a gata gatuna amamenta mais uma ninhada.
Estas são coisas boas.