sábado, 10 de outubro de 2009


18 de agosto de 2009. (Lembranças).
(perdão pelo “arquivo empoeirado da memória”, foi irresistível).

Estas unhas onduladas nas pontas de meus dedos não são as minhas. Aliás,nem os dedos são meus, pertencem a outra pessoa que conheci e não consigo localizar no arquivo empoeirado da memória.
Mas as unhas, estas eu conheço muito bem. São as unhas de minha mãe que me encantavam enquanto ela tricotava longas echarpes para Isadora Duncan. Ou finos casaquinhos de meia-estação, pois o clima era perfeito naqueles dias.
A pele enrugada de papel crepon na parte interna dos cotovelos também não é minha. É a pele de minha avó e é agradável acariciá-la de novo enquanto a velhinha dedilha o rosário eterno de sua tristeza e observa os poucos transeuntes na praça ensolarada.
--“Lá vem Aída com o cachorro Lux.”
--“Alfredo vai à igreja com a mulher e a filha e o sino ainda nem chamou para a missa.”
--“Cuidado, menina, não embarace as meadas da lã, estes fios são muito delicados e há pequenas nuances de cor que só aparecem depois do trabalho pronto.”
--“Seu avô está chegando, manda Antoninha servir o café.”
Aída chegou, conversou um pouco e foi embora. Ela e o cachorro Lux.
Alfredo e a família ainda estão na igreja, compenetrados e solenes, enquanto a menina leviana embaraça irremediavelmente as lãs de todas as cores.
O avô? Sentou-se cansado no sofá de couro marron e fechou os olhos.
Está dormindo.

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