quarta-feira, 30 de dezembro de 2009


Um ruído familiar fez com que eu olhasse para trás, para o canto do muro do cemitério israelita. Lá estavam elas, as galinhas. Ciscavam tranqüilas e comoventes, galinhas eternas, imutáveis, galinhas da infância.
Olhar para elas durante a triste cerimônia de sepultamento de uma amiga pareceu-me um oásis na tarde chuvosa. Galinhas acionam ternura em mim. Ternura pela amiga que quis morrer mas não pensou que conseguiria, pelo belo rosto da irmã desfeito pela dor, pela cara séria e assustada de minha filha, por aquelas poucas pessoas solenes em torno do túmulo. Homens de solidéo, chorosas senhoras judias lendo preces em língua que desconheço.
É um consolo, uma sensação de paz, pensar que as aves continuam lá noite e dia, corriqueiras, domésticas.
Suaves galinhas antigas, para todo o sempre.

Um comentário:

  1. Galinhas pra acalmar? boa idéia, melhor deixar algumas ciscando por aí, pros dias ruins
    (nossa... seus desenhos sao a coisa mais linda do mundo, alegram mais que galinhas!)

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