segunda-feira, 2 de novembro de 2009


Estranhos amigos, pouco nos víamos, raros telefonemas, cada um em uma cidade. A mim parecia que a Ouro Preto de Paulo Augusto ficava à milhas de distância da Praça da Savassi.
No entanto nossa proximidade era muito grande. Não preciso fechar os olhos para visualizar o olhar escuro e profundo e o sorriso doce de meu amigo. Comigo ele sempre foi suave e cavalheiresco.
Há mais de vinte anos eu o vi pela primeira vez no palco, declamando lindamente Cecília Meirelles e até hoje soa em meus ouvidos sua voz poderosa:
“Quem passar entre as casas triangulares,
quem descer estas breves escadas,
quem subir para as barcas oscilantes,
repetirá perplexo:
“Há um claro afogado nos canais de Amsterdão”.
Estranha ironia?
Mais tarde nos encontramos num desses bares da Belo Horizonte de então e surgiu a amizade, descobrimos até um relativo e longínquo parentesco, um item a mais para solidificar laços de afeto. Amigos, quase parentes.
Anos depois, num episódio digno de ópera bufa, para me defender em uma situação desagradável, Paulinho partiu em minha defesa em grande estilo, um D’Artagnan magnífico e teatral. Este fato mudou o rumo de minha vida. Para melhor. Quanto à dele, mudou também. Mudou-se para Mariana, depois para Ouro Preto, cidade perfeita para o poeta passear os sonhos e a poesia que nunca o abandonaram.

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