
Delikatessen de farmácia.
Sempre gostei de farmácias. Ainda menina, eu comprava esmaltes e batons com o dinheirinho que surrupiava de minha mãe. Quase escrevo minha pobre mãe, mas ainda não é hora. O produto do roubo era experimentado à noite, no banheiro. Lâmpada amarela, lábios vermelhos, unhas infantis pintadas de rosa-puta.
Mais tarde, a compra furtiva de absorventes que a farmácia já mantinha discretamente embrulhados em papel rosa-antigo. Camuflagem idiota, os meninos da rua nem ligavam para a menina magra menstruada.
Nesta época descobri que remédios para o fígado podiam me deixar menos infeliz. Talvez alguma remota ligação com “inimigo figadal”.
Depois vieram os antialérgicos que engordavam. Não engordei e tive que apelar para o soutien com enchimento. Eficaz mesmo foi o “Vinho reconstituinte Silva Araujo”, ótimo aperitivo responsável por uma geração de alcoólatras.
Em seguida os medicamentos contra ressaca. Meu pai saiu para comprar Engov para mim, acreditando numa suposta enxaqueca.
Desculpe, Herr Professor, você remediou um Day after de uma noite de muito champagne ordinário. A culpa que ainda sinto é muito doída, mas continuei a tomar vinhos vagabundos.
Na fase dos filhos, os antibióticos rosados, servidos em copinhos de plástico, traziam de novo cores e alegria às crianças febris.
Quando minha, aí sim, pobre mãe adoeceu, as idas à farmácia eram tristes. Sempre havia um pássaro agourento no caminho e eu sabia que nenhuma poção seria milagrosa.
Hoje? Antidepressivos, hormônios, cremes anti-idade que não funcionam e ainda muitos esmaltes e batons.