sábado, 29 de agosto de 2009

A visita do filho.

2 de agosto de 2009.

Vou fingir que acredito que este homem de olhar evasivo atrás dos óculos é o meu filho. Tentar ser natural e conversar com ele como se não estivesse sabendo que é um impostor que se apoderou de alguma forma da alma de meu filho.

Não é fácil, pois enquanto finjo que acredito nele estou sendo uma impostora também. Quando estou com o meu filho verdadeiro, passo a mão em seus cabelos e o abraço pela cintura. Deste homem não chego nem perto, não temos intimidade para carinhos destes que só se tem com filhos. Ele fala em advogados, computadores, aplicações na bolsa, tem o sorriso ríspido, gestos nervosos de visita de cerimônia e me causa um pouco de medo. Nossa conversa tem longas pausas nas quais cada um pensa que está enganando o outro. Ele boceja, eu ajeito o cabelo, nos entediamos um pouco até ele dizer que precisa ir embora, tem um compromisso.

_Então tá, bom você ter vindo, vai com Deus.

Ele vai com Deus enquanto eu me lembro de um haikai do Millor:

“eu vi que não era ele, ele viu que não era eu.”

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