domingo, 15 de agosto de 2010

Velhinha.


_ Mãe, a velhinha era bonita?
_Era, bonita e um pouco doidinha, fazia coisas que as outras moças não ousavam, naquele tempo.
Como assim? Ela usava vestidos muito curtos ou muito longos, sempre bordados com estrelas de várias cores que a mãe dela bordava. Ia ao mercado e comprava passarinhos, plantas e cestos que depois dava ao filho da cozinheira, menino que ela adorava.
Dirigia seu carro branco pela cidade inteira e levava a criança, que era pretinha, para passear. Todas as tardes de sol, carro branco, menino preto.
As noites eram muito alegres. Ela tomava champagne nos bares, ficava ainda mais doidinha. O carro voador percorria as ruas, parava nos locais mais animados e ela dançava, dançava muito mesmo, às vezes até de manhã.
Numa dessas noites ela se apaixonou, ficou muito feliz e um pouco mais doidinha. Depois, infeliz demais, passou a gostar de óperas, porque são tristes.
Aos poucos as coisas foram mudando, o carro foi trocado, a cozinheira foi embora e levou o menino, a mãe cansou de bordar estrelas e as borbolhas do champagne deixaram de ser leves.
_É mesmo?
_É. Ou era.

Um comentário:

  1. Eu também conheci a velhinha doidinha e andei em seu carro branco com o menino pretinho e fomos a vários lugares que ela conhecia. Um dia, vi o pássaro vermelho de que nosso amigo doidinho, Lúcio Cardoso, falava tanto e decidi deixar o carro da velhinha e fui atrás do pássaro vermelho que ela acabou desenhando com traços muito delicados, como me disse nosso amigo Jaime. E ele tinha razão.

    Ruth Silviano Brandão.

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